Consumo de psicotrópico e adesão às práticas tradicionais de cura do povo Xukuru do Ororubá
Data
2023-09-09Autor
Santos, Mayara Ines Feitoza dos
http://lattes.cnpq.br/9344079059026860
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Mostrar registro completoResumo
Objetivo: Descrever o padrão de uso de psicotrópicos pelos indígenas Xukuru do
Ororubá residentes na Aldeia Cimbres com diagnóstico médico de adoecimento
psíquico, e a adesão as práticas tradicionais de cura. Método: Estudo descritivo,
exploratório, de abordagem qualitativa, desenvolvido com 6 usuários indígenas
atendidos no polo base Xukuru do Ororubá e residentes na Aldeia Cimbres,
Pesqueira, PE. A pesquisa foi aprovada pelo parecer no 2.937.234 da Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa. Os dados foram coletados nos prontuários dos
usuários, nas fichas de acompanhamento do uso de psicotrópicos das Agentes
Indígenas de Saúde (AIS) e mediante entrevistas, utilizando instrumento de pesquisa
semi-estruturado. Durante a realização do levantamento de dados da pesquisa entre
os anos de 2021 e 2022 respeitando os protocolos de saúde preventivos da COVID-
19. Os dados obtidos mediante gravação das entrevistas, foram transcritos e
duplamente conferidos, previamente a exclusão dos áudios. Logo após foi realizada a
análise dos dados segundo o método das narrativas de acordo com os objetivos
propostos. Resultados: Entre os 867 usuários indígenas do polo base Xukuru do
Ororubá, atendidos por duas AIS, 52 usuários (6%) fazem uso de psicotrópico e tem
diagnóstico médico de adoecimento mental. Os dados clínicos desse grupo revelaram
que os principais agravos são: Transtornos depressivos (17,31%), Transtornos
Ansiosos (23,08%) e múltiplos diagnósticos (26,92%), onde 25% possuem diagnóstico
de transtornos depressivos e ansiosos concomitantemente. A principal abordagem
terapêutica utilizada é a prescrição de psicotrópicos. Evidenciou-se que o processo
de medicalização impacta no processo transcultural, ocasionando uma carência no
conhecimento e na crença sobre a eficácia das Práticas Tradicionais de Cura (PTC).
Os Indígenas em suas falas relatam sempre a importância da utilização das PTC, e o
quanto favorece no processo de cura. O uso de chás é o que está mais presente no
dia a dia das indígenas, evidenciando que a utilização dessas práticas perpassa
através de gerações, em todos os processos de saúde-doença. A predominância da
atribuição de diagnósticos de transtornos mentais e prescrição de medicamentos psicotrópicos rompe com a cosmologia e individualidade dos usuários, ferindo as
diretrizes trazidas pela Política de atenção à saúde Indígena. Portanto, a abordagem
biomédica tecnicista-utilitarista dos agravos a saúde opõe-se a atenção a saúde
diferenciada, ou seja, saúde indígena preconizada por essa política.
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