Do discurso religioso ao discurso político-partidário: a manipulação do discurso cristão no interior do aparelho ideológico do Estado Igreja
Resumo
O presente artigo parte do questionamento sobre como, na conjuntura social
brasileira das eleições de 2022, o discurso cristão foi capturado pelo discurso
político-partidário. A influência da igreja como um Aparelho Ideológico do Estado
(ALTHUSSER, 1985) não corresponde apenas à história recente do mundo
ocidental, mas pode ser descrita cronologicamente desde a Idade Média, quando o
discurso teocrático era utilizado para atribuir o autoritarismo político às ordens
divinas, até a consolidação do sistema burguês, passando por um silenciamento
entre os séculos XVIII e XIX, resultando na formação da sociedade capitalista
organizada politicamente com base no liberalismo econômico. Notadamente, o
sistema capitalista segue representado por um discurso a favor da classe dominante
e da sua ideologia, contando com a participação da igreja para sua disseminação.
Nesse sentido, busca-se analisar, teoricamente, o discurso do pastor Silas Malafaia
durante as eleições de 2022. Com base nas noções teóricas de condições de
produção discursiva (ORLANDI, 2012) e de sujeito do discurso (PÊCHEUX, 2009),
observamos quatro declarações do pastor no YouTube. Pelas análises, percebemos
que o pastor, na condição de sujeito do discurso e identificado à ideologia
dominante, posicionou-se através do discurso cristão com finalidade política e para
justificar a ordem do capital. Com isso, cooperou para disseminação de um discurso
que já não se configura como cristão, pois convocou os evangélicos a se
manifestarem radicalmente contra partidos políticos e contra os poderes da
República brasileira. Com esta breve discussão teórica, esperamos contribuir para
os estudos linguísticos e, sobretudo, para a divulgação da teoria pecheuxtiana